SEXTA-FEIRA, 24
FEVEREIRO
CONFERÊNCIA DE ABERTURA:
Ciência, História,
Museus Naturais e Arquivos: cartografias de História da Ciência (XVIII_XX)
Maria Margaret Lopes - Museu de
Astronomia e Ciências Afins - Rio de Janeiro, Brasil
Cartografar a
História das coleções, dos museus, das ciências, em abordagem de temática tão
abrangente, exige necessariamente opções temáticas e cronológicas.
Nessa perspectiva, o
aprofundamento das intersecções das Ciências, da História, dos Museus e
Arquivos, do conjunto de objetos e documentos armazenados nas instituições de
pesquisa das mais diversas ordens será tratada, sem intenção de apresentar uma
revisão da área de estudos, considerando a “ciência analítica/comparativa ou
museológica/diagnóstica”. Isto é, as práticas científicas que desenvolvidas
desde o XVIII, ao longo do século XIX permaneceram atuantes, identificáveis,
até bem adentrado o século XX. Aspectos tanto das trajetórias dos objetos nas
coleções, como dos museus, especialmente brasileiros e argentinos e suas
influências e inter-relações internacionais ilustram, que o que está se
passando a tratar em larga escala, são novas conjunções de objetos, de
públicos, de políticas e de profissionais nos dias de hoje.
PAINEL 1 – ESPAÇOS E ACTORES: LUGARES DA CIÊNCIA
GeoCiências:
história e práticas científicas em Portugal (XIX-XX)
Uma questão em
aberto: o “Museu de Geologia Colonial”
José Brandão – Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
PALAVRAS-CHAVE:
Geologia; Império Colonial; museus; coleções
RESUMO. Desde cedo
se reconheceu que à Geologia cabia um papel fundamental entre as diversas
temáticas de interesse colonial. De facto, no âmbito desta ciência, suporte
essencial dos trabalhos de reconhecimento da aptidão dos solos e implantação
das obras de engenharia, encontram-se matérias tão sensíveis como os recursos
minerais e os combustíveis fósseis, as reservas de água subterrânea e os
materiais de construção.
Bandeira da Sociedade
de Geografia de Lisboa, desde a sua fundação, a questão da exploração
científica das colónias agudizou-se com as crescentes pressões políticas
internacionais na sequência da Conferência de Berlim (1884-85) e do Ultimato
inglês (1890). Contudo, não obstante as notícias sobre incontáveis “riquezas”
do subsolo das colónias e a realização de algumas expedições patrocinadas pela
referida Sociedade, o Governo pouco investiu neste domínio.
Tal desiderato
implicava também a questão da preparação dos agentes da colonização, os quais
deviam ser devidamente instruídos para que pudessem contribuir eficazmente para
o reconhecimento do potencial dos territórios ultramarinos. Portugal precisava
por isso, de estruturas de carácter técnico-cultural que, não só apoiassem a
formação dos futuros funcionários coloniais como também dessem a conhecer,
mediante mostruários devidamente organizados, a diversidade do Império e as
suas possibilidades comerciais. Sublinhe-se que até então, o país contava
apenas com o Museu Colonial constituído no Arsenal por iniciativa do Ministério
da Marinha e do Ultramar (1870), cujo acervo foi incorporado no museu da
Sociedade de Geografia, dando origem ao Museu Colonial e Etnográfico na
dependência desta última instituição (1892).
No campo mais
restrito das Geociências, para além de algumas missões de investigação
iniciadas no último quartel do século XIX apadrinhadas pelo Museu Nacional de
Lisboa instalado na Escola Politécnica, devem sublinhar-se os pedidos oficiais
para que as autoridades em serviço nas províncias ultramarinas colhessem e
enviassem para a metrópole amostras de rochas e fósseis das respectivas
regiões, tarefas para as quais a Sociedade de Geografia fizera elaborar e
distribuir, oportunamente, “instruções” adequadas.
Mercê de sucessivas
ofertas, foram-se avolumando as colecções do Ultramar, com particular relevo
para as provenientes de África, tornando praticamente incontornável a
constituição de “Salas” específicas para dispor estes documentários. A primeira
surge em 1905 no seio do museu da Comissão Geológica do Reino; a segunda,
denominada Sala do Império Colonial Português, é criada ca. de 1936, no Museu
Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Estas “Salas” não
visavam substituir-se nem a um “verdadeiro” museu colonial que concatenasse, em
sede própria, as diferentes expressões do património natural e cultural dos
territórios ultramarinos, nem tão pouco a um “Museu de Geologia Colonial”
constituído à imagem dos criados por outras potências, avaliando-se a sua
independência daquelas entidades ou a sua subordinação aos Serviços Geológicos
do Estado.
Os anos passaram e
nenhuma destas hipóteses se concretizou, embora amplamente discutidas e
equacionadas até em letra de lei. Desta forma as referidas “Salas”, a que se
somou anos depois a “Galeria Colonial” da Universidade de Coimbra,
mantiveram-se até ao seu esvaziamento científico e político, por razões a que
não foi estranha, entre outras, a criação, em Angola e Moçambique de museus da
especialidade.
Na presente
comunicação passam-se em revista alguns traços destas estruturas museológicas,
recordam-se os seus principais obreiros e referem-se alguns reflexos
científicos da sua criação.
Um projecto de
musealização para o Gabinete de História Natural da Ajuda (1768_1836).
História, Colecções, Espaços
João Brigola – Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
Luís Ceríaco - Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
O Gabinete Real de
História Natural da Ajuda, fundado em 1768 e dirigido pelo naturalista paduano
Domingos Vandelli, constitui-se como o mais importante estabelecimento
cientifico e museológico da segunda metade do século XVIII e início do século
XIX português. Rico em produtos dos três reinos da natureza, este
estabelecimento foi o repositório de diversas coleções naturalistas, entre as
quais as famosas coleções da "Viagens Philosophicas", e em
particular, da viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil. Pela sua
importância cientifica, cultural e politica, o gabinete foi visitado por
diversos personagens, de meros curiosos a reputados naturalistas estrangeiros,
como Geoffroy Saint Hilaire que, enquanto comissário napoleónico, fez
transportar para o Muséum national d´Histoire Naturelle, em Paris, um avultado
número de exemplares da Ajuda. Todos estes visitantes, mas também documentos
internos, na sua maioria inéditos, permitem-nos conhecer de forma
consideravelmente detalhada o que foi, como era constituído, como estava
exposto e o que se passava no dia a dia do Gabinete. Na conjugação de todos
estes dados históricos, e do facto de o próprio edifício e alguns exemplares
ainda existirem hoje em dia, a ideia de recriar aquele que foi um dos mais
afamados estabelecimentos científicos nacionais é um resultado natural e
expectável. No entanto, existem várias questões, técnicas, científicas,
políticas e estruturais que exigem que essa recriação seja objeto de profunda
reflexão e discussão. A exequibilidade do projeto depende, numa primeira fase, da
disponibilidade do local, o qual necessita de um estudo e intervenção prévia,
devido ao seu atual estado. Por outro lado, a própria natureza desta
"recriação" impõe escolhas prévias, isto é, sobre a sua função,
público e enquadramento institucional. Por fim, a natureza do tipo de coleções
nele expostas, ou a eterna questão sobre o regresso, seja ele definitivo ou
temporário, de todos (ou apenas alguns), dos espécimens originários da Ajuda e
hoje dispersos por várias instituições nacionais e internacionais, exigem uma
vez mais uma longa reflexão e estudo prévio. Pretende-se nesta comunicação
apresentar, à luz de novas investigações em curso, uma imagem detalhada e o
mais completa possível do que foi o Gabinete Real de História Natural da Ajuda,
e deixar hipóteses, cenários e questões do que poderá vir a ser a sua
recriação.
Jardins Botânicos
Vitorianos: Cultura, Ciência e Império
Luís Mendonça de Carvalho -
Museu Botânico (Instituto
Politécnico de Beja) e Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência,
Universidade de Évora
Francisca Maria Fernandes - Museu Botânico (Instituto
Politécnico de Beja)
A concepção do
jardim científico teve a sua génese durante o Renascimento, contudo, os jardins
botânicos apenas surgiram na sequência do Iluminismo, quando a razão se
combinou com a estética e com uma inovadora procura do conhecimento científico.
No século XIX, as grandes cidades europeias iniciaram uma inexorável expansão,
na qual o espaço não era um factor limitante e é nesse contexto de planeamento
urbano que surgiram os jardins botânicos europeus durante o século XIX.
Embora as grandes
epopeias marítimas tenham sido desenvolvidas no final do século XV e durante o
século XVI, as viagens científicas ocorreram no final do século XVIII e no
século XIX. Durante este período, os europeus adquiriam uma apurada consciência
da diversidade dos recursos biológicos e a história natural alcançou uma
posição nunca antes tida na ciência europeia e nos interesses económicos e
políticos dos novos impérios ultramarinos. Os jardins botânicos deixaram de ser
teatros botânicos nos quais se observava a ordem e o poder criativo divino para
desempenharam um papel activo na política económica e na definição de
estratégias agrícolas e florestais dos territórios coloniais administrados
pelos europeus.
No império
britânico, a génese destas instituições científicas foi paralela à expansão
colonial - quando a Rainha Vitória ascendeu ao trono (1837) existiam no Império
Britânico cerca de dez jardins botânicos activos; quando faleceu (1901)
existiam mais de cem. O principal jardim botânico do império estava situado em
Kew (Richmond, arredores de Londres) e a sua acção foi central na introdução da
borracha e da quineira no sudeste asiático, do sisal na África Oriental, do chá
no Ceilão (Sri Lanka), etc.. Nos Jardins Botânicos de Kew formaram-se centenas
de botânicos e curadores que eram enviados para as colónias para aí auxiliarem
o desenvolvimento agrícola e a implementação de políticas económicas definidas
em Londres.
Quando a Era
Vitoriana chegou ao fim, os jardins botânicos começaram a ser vistos como
relíquias de um período colonial que se transformou. A sociedade britânica
evoluiu, a história natural deixou de ocupar uma posição central nas discussões
científicas e os jardins botânicos passam a ser, primariamente, locais de lazer
e de educação científica.
A criação do Observatório Astronómico da
Universidade de Coimbra (1799) e o estabelecimento do seu programa científico
Fernando B. Figueiredo – Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra
A criação do
Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra (OAUC), fundamental para a
institucionalização da ciência astronómica em Portugal, decorreu durante um
período (segunda metade do século XVIII) em que a Astronomia, sustentada pelos
grandes avanços teóricos da mecânica celeste e da matemática aplicada, tentou
resolver as grandes questões que desde Newton vinha enfrentando.
As questões ligadas
aos problemas de navegação, geodesia e cartografia, determinação de órbitas de
planetas e cometas e medições astrométricas estão também na base da criação e
planificação do Observatório de Coimbra – o primeiro Observatório Astronómico
do país ligado à Universidade mas com profundas características de um
Observatório Nacional.
A ideia de criar um
Observatório Astronómico surge desde logo nos Estatutos Pombalinos (1772) a
propósito da cadeira de Astronomia. A sua criação tinha dois objectivos
distintos: um a leccionação e a prática da astronomia universitária e o outro,
o desenvolvimento da própria ciência astronómica.
A construção do
referido Observatório esteve planeada inicialmente para o sítio do Castelo da
cidade. Contudo, tal obra, apesar de iniciada, não se viria a concretizar
devido ao seu elevado custo. Para suprir as necessidades lectivas foi,
entretanto, edificado, por volta de 1775, um pequeno Observatório provisório no
terreiro do Paço das Escolas – Observatório esse que viria a funcionar
provisoriamente durante cerca de 15 anos!
Em finais da década
de 80 a inexistência de facto de um verdadeiro Observatório Astronómico na
Universidade torna-se um problema premente. É através da estreita colaboração
entre Monteiro da Rocha e o arquitecto Manuel Alves Macomboa, com o impulso
político do 2º governo mariano, que surgirá o projecto definitivo para este
estabelecimento, que aprovado pela Universidade em 5 de Fevereiro de 1791 se vê
concluído em 1799.
Após a inauguração a
sua actividade científica, da inteira responsabilidade de Monteiro da Rocha
(1734-1819), centra-se no cálculo e na publicação das emblemáticas 'Ephemerides
Astronomicas’ (1803).
Nesta comunicação
pretendemos relatar a história da criação do Observatório Astronómico e o
estabelecimento do seu principal programa astronómico, centrado na mecânica
celeste.
Espaços e actores do ensino da electricidade em Portugal (1852 -1926)
Ana Cardoso de Matos – Centro Interdisciplinar
de História, Culturas e Sociedades – Universidade de Évora
A electricidade foi uma das disciplinas ensinadas no Instituto
Industrial de Lisboa criado em 1852, onde graças à iniciativa do físico
Francisco da Fonseca Benevides foi organizado um moderno laboratório de
electricidade e foram sendo introduzidos os mais recentes desenvolvimentos da
energia eléctrica e das suas aplicações.
Com a criação do Instituto Superior Técnico (IST) surgiu o ensino da
electricidade e da electrotecnia, disciplinas que ficaram a cargo de dois
engenheiros: Maximiliano Gabriel Apolinário, um
engenheiro português diplomado pela Universidade de Liége, e Léon Fech, um
engenheiro belga também diplomado pela Universidade de Liége. Deste instituto
saíram vários engenheiros que, nas décadas seguintes, vieram a ter um
importante papel no desenvolvimento do sector eléctrico em Portugal.
Nesta comunicação propomo-nos analisar:
- a evolução do ensino da electricidade desde o Instituto
industrial até a criação do primeiro curso de engenharia electrotécnica
leccionado no IST.
- os
espaços de ensino da electricidade e a sua evolução ao longo do tempo.
- o
papel dos engenheiros formados no IST no desenvolvimento do sector eléctrico em
Portugal.
Ciência e Técnica na
imprensa militar (1851-1914): circulação e trocas de conhecimentos
José Luís Assis – Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
A Regeneração surgiu
em Portugal após as lutas civis e dos golpes que consagraram os militares como
os grandes protagonistas. Esse clima afastou qualquer possibilidade de que
propiciasse a realização de discussões associadas à cultura técnica e
científica tão necessária ao desenvolvimento e progresso do país. Apesar desses
constrangimentos, a Regeneração iria afirmar-se tendo como alicerce as ideias
positivistas que permitiriam a criação de uma nova sociedade. O atraso técnico
e científico que decorreu do quadro político-militar tornara-se desprestigiante
para o exército. É no sentido de alterar esse quadro político que em Dezembro
de 1848, Fontes Pereira de Mello, se reuniu em Lisboa com um grupo de oficiais
e fundaram a Revista Militar, periódico técnico e científico. A linha editorial
vinca a importância da Ciência no progresso da humanidade e o papel da imprensa
periódica científica na democratização do saber e no desenvolvimento do país
que sessenta anos depois a República Portuguesa reconheceria.
A imprensa militar,
pela relação estreita que estabeleceu entre os diversos conhecimentos técnicos
e científicos, contribuiu como factor paradigmático para o aparecimento de uma
nova era na historiografia portuguesa em que os militares seriam os mais
habilitados para, num momento de paz, se tornarem os difusores das mais
recentes conquistas científicas que iam ocorrendo nos países europeus mais
desenvolvidos. Nascem novos conceitos e novas visões do mundo a partir de
permutas com outros periódicos europeus e americanos, de visitas realizadas a exposições
internacionais e universais, de viagens científicas e conferências
internacionais a Londres e a Paris. Numa sociedade culturalmente incipiente,
não admira que fossem os militares, particularmente os engenheiros e médicos
militares, os mais aptos a divulgar uma ciência ainda militarizada, (Nunes,
2005, 9). Esses militares dotados de determinados conhecimentos vão inserir-se
na sociedade civil, tornando-se os mais aptos técnica e cientificamente para
acompanhar e aplicar as conquistas que nesse domínio interessavam à
modernização do país. A divulgação de «conhecimentos úteis», terminologia
utilizada na época, iria a partir da segunda metade de oitocentos inaugurar uma
nova era no panorama cultural e cientifico português. Foram Homens que
implementaram um conjunto de práticas científicas e destreza técnica que só
eles souberam colocar ao serviço da Nação, obedecendo aos princípios do
utilitarismo liberal e à valorização de um publicismo técnico e cientifico como
forma de educar e civilizar o Povo ou os Povos conforme a retórica
oitocentista. É neste quadro sequencial e encadeado de práticas técnicas e
científicas que percebemos a queda da fronteira entre a sociedade civil e a
militar. É com alguma surpresa que encontramos na segunda metade do século XIX,
personalidades envolvidas nas práticas e actualizações técnicas e científicas
da imprensa militar.
Pretendemos com esta
comunicação apresentar a leitura e interpretação de alguns textos científicos
sobre exposições, congressos e viagens científicas publicados e difundidos pela
imprensa científica militar. Esta abordagem implicará um olhar sobre as
relações entre os elementos científicos do contexto técnico e científico
nacional e europeu de modo a conseguir-se compreender a importância e
significado das opções tomadas.
As radiocomunicações como espaço de
inovação
Maria Inês Queiroz – Instituto de
História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
de Lisboa
A introdução das radiocomunicações nas redes de comunicação mundiais, a partir
dos últimos anos do século XIX, inscreve-se num contexto de desenvolvimento
acelerado dos processos de invenção e de inovação associados às
telecomunicações. No quadro concreto português, e já no início do século XX, as
comunicações sem fios importaram não só a tecnologia que lhes estava associada
mas também o conhecimento científico e os factores de modernização que viriam
mostrar-se determinantes em matéria de desenvolvimento nesta área, com
evidentes repercussões na actividade económica.
E foi neste sentido que as radiocomunicações se constituíram como espaço
fundamental de modernização e inovação, designadamente, e como se pretende
observar nesta comunicação:
1. No quadro do pensamento científico, tratando-se de um novo espaço no
domínio da ciência aplicada e no modo de pensar a ciência;
2. Como modernizador de espaços de comunicação, no que se refere aos
meios e vias de construção das redes de comunicações;
3. Como espaço agregador e gerador de inovações – quer em matéria de
desenvolvimento das redes, equipamentos e estações, como no que se refere à
formação e experiência técnica.
4. Como espaço de dimensões e importâncias variáveis consoante os
contextos de ruptura e transformação, interagindo com eles, alterando-os e
deixando-se alterar.
5. Como espaço de alteração dos quotidianos e do modo de olhar a ciência.
Laboratórios
Universitários na I República: espaços de ciência entre a tradição e a
modernidade
Ângela Salgueiro - Instituto de
História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
de Lisboa
Nas vésperas da I
República a actividade científica das instituições de ensino superior era
bastante modesta. Os seus estabelecimentos anexos como os gabinetes,
laboratórios e museus, encontravam-se depauperados, sem meios para desenvolver
trabalhos de investigação aplicada, destinando-se, sobretudo, ao apoio e
exemplificação das aulas teóricas, à introdução dos alunos ao trabalho prático
e ao apoio à realização de dissertações académicas. O Instituto Bacteriológico
de Câmara Pestana, que reunia uma dinâmica plêiade de jovens investigadores,
estava ainda fora desta órbita.
A implantação da
República permitiu reestruturar profundamente o ensino superior português,
tendo em linha de conta os ideais republicanos de promoção da Ciência e do
Racionalismo, favorecendo um ensino de tipo experimental que seguia o modelo
humboldtiano de universidade e o desenvolvimento da investigação científica,
problemática que alguns republicanos eminentes, como Bernardino Machado,
relacionavam com própria sobrevivência nacional. Esta conjuntura permitiu uma
multiplicação dos estabelecimentos anexos às instituições universitárias, que
se revestiram de uma organização mais complexa, por desenvolverem competências
em domínios como o ensino, a investigação, a aplicação económica e a própria
assistência social. Favoreceu também a emergência de uma nova elite científica,
internacionalizada e extremamente familiarizada com o espaço laboratorial, com
a sua sociabilidade e os seus rituais, que contribuiu activamente para a
discussão em torno das novas problemáticas científicas. Não obstante, a
permanência de alguns problemas estruturais associados à própria instabilidade
política, social e económica do regime republicano e a diversas limitações nas
iniciativas reformistas levaram a um desenvolvimento heterogéneo dos
laboratórios universitários, criando desigualdades difíceis de ultrapassar.
Neste sentido,
pretende-se explorar o processo de expansão e institucionalização de uma nova
noção de laboratório/ instituto universitário durante o período histórico da I
República portuguesa, tendo em atenção as resistências e constrangimentos a que
esteve sujeito, bem como os seus sucessos e insucessos através da análise de
alguns organismos específicos.
O Club Photographico
Lisbonense (1861). A primeira associação fotográfica criada em Portugal
Carmen Almeida - Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
A despeito da
participação científica na génese fotográfica, a adesão dos cientistas ao seu
uso não foi imediata: se bem que parecesse satisfazer o novo ideal emergente de
objectividade mecânica nas ciências naturais, cedo, os homens de ciência e o
público em geral começaram a questionar a reclamação da verdade baseada em
fotografias, bem como os critérios pelos quais ela podia ser aceite como
evidência científica. Estes debates irromperam em clubes e associações mais ou
menos informais, laboratórios, observatórios e encontros científicos, bem como
em exposições internacionais e periódicos ilustrados até cerca de 1870.
O Edinburgh Calotype Club (1842?) foi o
primeiro clube fotográfico a ser fundado no mundo, de que fazia parte um grupo
de ilustres amigos de Fox Talbot. Em 1853, foi fundada a Royal Photographic
Society, tendo como modelo a Calotype Society e a sua contemporânea francesa, a
Societé Heliographique (1851) que, dois anos mais tarde, daria lugar à Societé
Française de Photographie.
No seio destas
sociedades, verdadeiros laboratórios, por onde passavam os mesmos cientistas
que pertenciam, por exemplo, à Geological Society, à Chemical Society, ao
Meteorological Council´s, ou, no caso francês, à Academie Française des
Sciences, para além de um vasto número de amadores fotográficos, decorriam
animados debates, em torno da ambiguidade do estatuto da fotografia.
Em Portugal a
primeira associação, ou clube fotográfico, surge em Lisboa, em 1861, fortemente
inspirado pelos modelos ingleses e franceses.
A análise dos seus
estatutos e a caracterização socioeconómica dos seus fundadores permitem
identificar os agentes de divulgação do novo invento e as formas de apropriação
e circulação do novo saber, bem como conhecer os respectivos espaços de
transmissão e ainda compreender o estatuto social e científico que a fotografia
tinha então no nosso país, bem como intuir uma certa política nacional perante
o novo (?) invento.
Palavras-chave:
Centro; circulação do saber; comunicação; cultura científica; fotografia;
história da ciência; história social; periferia; popularização da ciência;
redes de saber.
O Hospital de Santa
Marta no Nascimento da Psicocirurgia: espaços, ideias e atores
Manuel Correia – Centro de Estudos
Interdisciplinares do Século XX
Célia Pilão - Centro Hospitalar
de Lisboa Central
A principal
referência institucional da Psicocirurgia é o Hospital de Santa Marta, também
Hospital Escolar até 1953, ano em que essa funcionalidade foi transferida para
o recém construído Hospital de Santa Maria. Foi nas instalações do Serviço de
Neurologia deste Hospital que equipa de Egas Moniz procedeu às primeiras
leucotomias no final de 1935.
À descrição sumária
do espaço e da estrutura institucional junta-se a caracterização dos principais
atores, alguns também membros do corpo clínico deste Hospital, diretamente
envolvidos quer na experimentação que conduziu quer à Angiografia Cerebral quer
à Leucotomia pré-frontal.
Entre os fatores
apontados para a credibilização e aceitação do método leucotómico de Moniz e
Lima, é dado realce à sua posição institucional universitária e hospitalar,
sublinhando-o e relacionando-o com a produção do discurso persuasivo que
acompanhou a divulgação da sua prática.
Casa de Saúde do
Telhal na História da Psicocirurgia:
Ideias, Espaços, Práticas e Protagonistas
Aires
Gameiro
- Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, CLEPUL, CEIS20 e IPCDVP-FPCE-UC
Manuel
Correia
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX
Augusto
Moutinho Borges
- Instituto Politécnico da Guarda, CLEPUL e CEIS20
A atual Casa de
Saúde do Telhal teve a sua origem em finais do século XIX (1893) como colónia
hospitalar de alienados.
A sua orgânica
assistencial foi edificada com base num sistema de pavilhões separados por
patologias e desenvolvimento das práticas de ergoterapia diversificada. Foi
centro de formação da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus e Escola de
Enfermagem, albergando a sede do primeiro Museu da Loucura.
A Casa de Saúde do
Telhal, em cuja Clínica Cirúrgica foram levadas a cabo algumas das primeiras
leucotomias nos anos 1930 e 1940, desempenhou um papel de primeira grandeza na
História da Psicocirurgia, facilmente analisado na vasta documentação e
bibliografia especializada existente sobre o tema.
Os autores
caracterizam o espaço e a instituição, resumindo os principais aspetos
históricos, referindo os principais atores e a forma como o método foi
associado a outras terapêuticas da época.
PAINEL 2 – ORGANIZAÇÃO DA CIÊNCIA: PROMOTORES E ORGANISMOS
La lucha por la
modernidad: La Junta para Ampliación de Estudios y sus protagonistas
CONFERÊNCIA DE José María López Sánchez - Universidad Complutense de Madrid
La creación de la
Junta para Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas (JAE) en enero
de 1907 marcó un antes y un después en la política científica de España durante
su contemporaneidad. Con la fundación de la JAE se daba un importante paso para
poner fin al retraso que en materia científica presentaba el país a comienzos
del siglo XX en comparación con las naciones más avanzadas de su entorno. Desde
finales del siglo XIX los círculos intelectuales cercanos a la Institución Libre
de Enseñanza no habían cesado en la denuncia de las consecuencias que esto
había tenido para el retraso social y económico del país. La Junta era la
respuesta que tan largamente habían esperado. La JAE puso en marcha dos
instrumentos esenciales para propiciar la creación de un sistema científico
moderno en España: las pensiones (becas) al extranjero con el fin de preparar
un personal científico competente que conectara con los desarrollos de la
ciencia internacional y, en segundo lugar, la creación dentro de España de
institutos y laboratorios de investigación que pudieran recoger los frutos de
los pensionados a su regreso. Dos fueron los centros de investigación que la
JAE financió: El Centro de Estudios Históricos, dedicado al estudio en ciencias
humanas y sociales, y el Instituto Nacional de Ciencias Físico-Naturales,
orientado a los trabajos en biomedicina, ciencias naturales y ciencias
físico-químicas. En sus instalaciones trabajaron la flor y nata de la ciencia
española del primer tercio del siglo XX: Santiago Ramón y Cajal, presidente de
la JAE, Ignacio Bolívar, director del Museo Nacional de Ciencias Naturales,
Blas Cabrera, director del Instituto Nacional de Física y Química, y Ramón
Menéndez Pidal, director del Centro de Estudios Históricos, entre otros muchos
importantes nombres de la ciencia española de comienzos del siglo XX.
Génese e
estruturação da organização do sistema científico português. Criação e missão
da Junta de Educação Nacional
Maria Fernanda Rollo - Instituto de
História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
de Lisboa
Esta
comunicação estuda a génese da organização do sistema científico português
abordando três aspectos principais: i) a emergência do pensamento e do debate e
as primeiras acções no sentido da criação de um organismo de promoção e
organização da ciência em Portugal; ii) o contexto internacional, compreendendo
a análise comparativa com outros casos nacionais, em que se inspiraram e
inscreveram as primeiras experiências de organização do sistema científico
português; iii) a criação da primeira instituição em Portugal com a missão de
promover o desenvolvimento da ciência e organizar o sistema nacional.
Instituto Nacional de Investigação Industrial: a investigação científica
aplicada ao desenvolvimento industrial
Ana Carina Azevedo - Instituto de História Contemporânea –
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
A criação do
Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) constituiu-se como um
passo relevante no sentido do desenvolvimento industrial por via da
investigação, tendo como objectivo promover, auxiliar, coordenar e aperfeiçoar
o desenvolvimento do sector no País.
Tal como é referido
na lei n.º 2089, de 8 de Junho de 1957, que institui o INII dois anos antes do
decreto-lei n.º 42120, de 23 de Janeiro de 1959, que o viria a criar e
regulamentar, cabia a este instituto a promoção e aproveitamento dos estudos e
investigações de interesse para o progresso das indústrias, de modo a
acompanhar a evolução e os progressos científicos e técnicos, bem como a
compilação e realização de estudos, ensaios e investigações científicas e
técnicas de utilidade reconhecida no âmbito industrial. Ficaria ainda este
instituto encarregue de criar, manter ou dirigir museus tecnológicos,
laboratórios, instalações de ensaio, estações experimentais, fábricas-escola e
centros de estudo ou de investigação, prestando auxílio científico e técnico
aos industriais e organismos públicos ou privados que o solicitassem, além de
promover iniciativas de divulgação dos resultados obtidos e acções de formação,
mantendo em aberto as possibilidades de cooperação internacional nestes
domínios.
Tendo em conta os propósitos
expressos aquando da formação do Instituto Nacional de Investigação Industrial,
pretendemos suscitar o debate em torno do papel deste instituto enquanto espaço
de ciência no domínio da indústria, partindo das vicissitudes que marcaram o
seu processo de constituição, sem esquecer a articulação com a conjuntura
política e económica da época, que em muito marcou a sua génese e
desenvolvimento e reflectindo acerca dos seus impactos e repercussões no tecido
industrial português.
A Junta Nacional de Investigação Científica e
Tecnológica
Tiago Brandão - Instituto de
História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
de Lisboa
Palavras-chave: Instituições Científicas,
Políticas Científicas, Organização e Administração da Ciência, Estado Novo.
Resumo: Seja qual for o valor que se pretenda
dar à organização da ciência durante
o Estado Novo, no meio de tantas instituições criadas, há uma que importará
sempre destacar, é a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica
(JNICT) – Decreto-Lei n.º 47 791, 11 de Julho de 1967. Este organismo foi
criado, em 1967, com a incumbência de “planear, coordenar e fomentar” o esforço
de investigação, tanto científica como tecnológica em todo o “espaço português”
e sempre tendo presente a “máxima produtividade”. No seguimento das
recomendações de organismos internacionais, a criação da JNICT veio assinalar,
sem dúvida, uma nova fase no processo de emergência da política científica em
Portugal.
A JNICT emergiu
assim, no seio do que modernamente chamamos como “sistema nacional de ciência e
tecnologia”, com uma missão bem definida e, claramente, distinta da dos
restantes organismos existentes. A JNICT foi, sem dúvida, antes de mais, um
corpo encarregue da coordenação
horizontal, explicitamente reconhecida, articulando os mundos da
investigação científica e inclusive com outros sectores da vida nacional. À
JNICT cumpria, nesse sentido, orquestrar ou influenciar um conjunto de
instituições, entidades ou personalidades no desempenho de diferentes funções
tendo em vista o interesse nacional. Para esse fim, contava a JNICT, inicialmente,
apenas com o poder de influência do seu presidente, que pouco mais dispunha do
que uma vida de contactos e a experiência de um curriculum no campo da administração da ciência em Portugal.
Procurar-se-á trazer
então, dentro dos limites que a duração da comunicação venha a impor, aspectos
sobre a actuação da JNICT, os contornos da política científica seguida,
nomeadamente as opções estratégicas vislumbradas, bem como os debates e
polémicas desse período de actuação correspondente ao último acto do Estado
Novo (1967-1974).
Ismael Cerqueira Vieira - Centro de
Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» | Faculdade de Letras
da Universidade do Porto
Escolas médicas e tuberculose: um olhar sobre as dissertações médicas em
tisiologia em Portugal (sécs. XIX – XX)
A tuberculose enquanto doença ubíqua na sociedade portuguesa
contemporânea despertou desde meados do século XIX uma atenção especial dos
médicos e instituições de ensino médico em Portugal. As escolas médicas
portuguesas, enquanto centros de produção de conhecimento e transmissores de
ideias e teorias tiveram um papel importante na (re)produção do conhecimento
tisiológico.
Da produção/transmissão de conhecimento resultaram a elaboração de
dissertações académicas, quer para a obtenção de graus quer para acesso à
docência, que são fontes privilegiadas para aferir o estado de conhecimentos e
temas dominantes de cada época, os avanços e momentos de estagnação, o
aparecimento de novas ideias, etc.
Partindo do tratamento destas dissertações segundo a metodologia de
análise de conteúdo, proposto por Laurence Bardin, e assente em procedimentos
como a classificação e categorização pretendemos com esta comunicação abordar
os seguintes aspectos: primeiro enquadrar a produção de dissertações académicas
sobre a tuberculose no contexto geral da produção académica de cada escola
médica (Porto, Coimbra e Lisboa), segundo perceber o grau de interesse
manifestado por cada uma das escolas no estudo e pesquisa sobre a tuberculose e
terceiro aferir os temas predominantemente tratados cruzando-os com factos e
acontecimentos no campo da tisiologia em Portugal e no estrangeiro.
O
Instituto Câmara Pestana: participação nas redes internacionais de
investigação
biomédica
José Pedro Sousa Dias – Faculdade de
Farmácia, Universidade de Lisboa e Centro de Estudos de História e Filosofia da
Ciência, Universidade de Évora
A presente
comunicação procura identificar os principais momentos de interacção da
comunidade biomédica de Lisboa com as redes internacionais de investigação, em
que existiu uma significativa intervenção do Instituto Bacteriológico de
Lisboa, durante os seus primeiros 50 anos de existência, dando particular
atenção ao debate sobre a etiologia da doença do sono (1901-1903), à realização
em Lisboa do XV Congresso Internacional de Medicina e à constituição da
Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais (1906-1907) e à criação da Reunião
Biológica de Lisboa e primeiros anos de existência da Sociedade Portuguesa de
Biologia (1920-1929).
A Angústia da Influência. Cruzamentos da Política e da Ciência
1933-45
Fernando Clara - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
de Lisboa
A Ciência na
Alemanha nacional-socialista - e o termo "Ciência" deve aqui ser
entendido num sentido amplo, que inclui tanto as Ciências Naturais (Naturwissenschaften),
como as Ciências Humanas (Geisteswissenchaften) '- tem sido objecto de vários
estudos desde os anos sessenta.
Na sua maioria, esses estudos têm no
entanto sido desenvolvidos num quadro historiográfico alemão, especialmente
preocupado e interessado em desmistificar as estruturas internas da Ciência na
Alemanha da época, os seus espaços e principais actores. Menos atenção tem sido
dada assim à circulação (leia-se: influência) desta Ciência fora da Alemanha.
A comunicação procurará dar genericamente
conta da circulação desta ‘Ciência Alemã’ em Portugal durante o período em
análise, inventariando as questões que ela coloca ao nível das estratégias de
produção e recepção dessa influência e chamando finalmente a atenção para a
hibridez dos espaços e actores que nela estão (ou se vêem) envolvidos.
Networking for change, Francisco
da Costa Lobo's (1864-1945) role in the development of 20th century Portuguese
science
Isabel Malaquias - Departamento de Física, CIDTFF, Universidade de Aveiro
After the implementation of the Portuguese Republic
in 1910 one individual, Francisco da Costa Lobo (1864-1945), stands out in the
promotion and development of Portuguese Astronomical and Mathematical sciences
and in opening up the country scientific relations to the exterior. Although
Costa Lobo started his scientific activity in the 19th century his main
contributions only occurred after 1910 and are apparently consequence of the
political regime change. Throughout his career Costa Lobo not only worked on a
wide range of scientific topics from astronomy to mathematics but also used
novel instrumental techniques as, for example, cinematography. He led the
establishment of a world class solar observatory at Coimbra University. Due to
his pro-active stance several scientists of international standing came to
Portugal. Costa Lobo helped organise the 1925 Coimbra joined congress of the
Portuguese and Spanish Associations for the Advancement of Sciences and the
1932 Lisbon Congress of the International Union of Geodesy and Geophysics. He
traveled extensively at his own expense, in research field trips, and as the
official Portuguese representative
In this work we overview Costa Lobo's scientific work and analyse its
impact upon the development of the Portuguese astronomy/astrophysics in the
first half of the 20th century.
A ciência e a criação de um «homem novo» português. O pensamento de
Barahona Fernandes e a influência das teorias eugénicas alemãs.
Cláudia Ninhos - Instituto de História Contemporânea – Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
Instituída em 1929,
a JEN vai assumir um papel de extrema importância no panorama científico e
cultural português, apesar dos seus parcos recursos. Um dos objectivos que
esteve subjacente à sua criação foi o aperfeiçoamento do quadro docente
nacional, em Portugal e no estrangeiro. Para tal, os intelectuais deveriam ser
enviados “aos centros estrangeiros de mais alta cultura”, fomentando-se “uma
intensa e eficaz ligação dos investigadores nacionais com os outros países”,
para que Portugal pudesse “colaborar no movimento mundial de cooperação
intelectual”. Neste âmbito, a Alemanha afirma-se como um dos “centros estrangeiros
de mais alta cultura”, para onde a JEN e, posteriormente, o Instituto para a
Alta Cultura, enviará os seus bolseiros. Apesar de Portugal ser um país que
estava, tradicionalmente, sob uma influência cultural francesa, há já algum
tempo que a Alemanha vai ganhando relevo no meio cientifico, académico e
cultural português. Aquele país transforma-se, assim, num dos principais
destinos escolhidos pelos bolseiros portugueses.
O propósito desta
comunicação será analisar o percurso de um desses bolseiros, Henrique João
Barahona Fernandes, e a influência que o desenvolvimento dos estudos na
Alemanha, entre 1934 e 1936, teve no seu pensamento. Em 1930, Barahona
Fernandes definia eugenia, quase poeticamente, como a forma de “dar a morte
doce e suavemente, sem torturas do corpo ou da alma, transpondo de mansinho os
umbrais que levam para além da vida”. Estando na Alemanha num período em que as
teorias eugénicas atingiram o paroxismo, que influências tiveram no bolseiro
português? O que aprendeu Barahona Fernandes em contacto com o Kaiser Wilhelm
Institut für Anthropologie, menschliche Erblehre und Eugenik [Instituto
Imperador Guilherme de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia] e com o
Universitätsinstitut für Erbbiologie und Rassenhigiene [Instituto Universitário
de Biologia Genética e Higiene Racial] e com nomes como Eugen Fischer ou Von
Verschuer?
As
origens da INVOTAN no âmbito do internacionalismo científico da década de 1950
Paulo Vicente - Instituto de História Contemporânea –
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
A
década de 1950 foi uma década chave tanto para a Guerra Fria como para a
história da ciência verificando-se gradualmente uma internacionalização da
mesma. No âmbito da cooperação ocidental já previamente iniciada pelo Plano
Marshall, respirar-se-á um novo fôlego com o final da Guerra da Coreia e a
morte de Estaline que resultará no fortalecimento de uma ponte de relações
entre os países da NATO para além do âmbito militar, recaíndo no aspecto civil,
já previamente prometido no documento fundador da NATO e num contexto de
solidificação de bases para a prosperidade económica, política e social no seio
da Aliança.
Este
internacionalismo é desde logo destacável com a iniciativa «Átomos para a Paz»
(que resulta na Convenção de Genebra) e, mais tarde e após o relatório dos
«Três Sábios», na constituição do Comité Científico no seio da NATO. É
especialmente neste contexto que Portugal, como membro fundador, vai fortalecer
a sua adesão à internacionalização científica quando cria no seio da
Presidência do Conselho a oficiosa Comissão Coordenadora para a Investigação
para a OTAN (INVOTAN) em 1959. Apesar do seu carácter oficioso, a sua
importância não é de todo menosprezável destacando uma actividade
exponencialmente crescente tanto na participação dos programas de Bolsas como
nas subvenções às Investigações Científicas.
Todavia,
é importante destacar que a sua criação é o culminar da conjuntura da década de
1950, onde Portugal veio a participar no forum científico internacional,
sobretudo referente aos assuntos nucleares, tendo previamente criado a Junta de
Energia Nuclear.
Este
estudo serve como ponto de partida para a percepção das origens desta oficiosa
Comissão INVOTAN, duplamente produto das tensões conjunturais descritas assim
como da aproximação portuguesa aos desígnios norte-americanos baseados na
cooperação entre os países da Aliança.
SÁBADO, 25 FEVEREIRO
PAINEL 4 - ESPAÇOS E ACTORES: PROTAGONISTAS DA CIÊNCIA
A “Junta de Educação
Nacional” (1929-1936): cultura e investigação científica. Portugal na Europa do
século XX.
Maria de Fátima Nunes – Centro de Estudos de História e Filosofia da
Ciência/Departamento de História, Universidade de Évora
Augusto Fitas - Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência/Departamento de Física, Universidade de
Évora
Quintino Lopes - Centro de Estudos
de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
Palavras-chave:
Junta de Educação Nacional; Investigação científica; Bolsas; Congressos
científicos
Resumo: Desde o
século XIX que o processo de profissionalização da actividade científica se faz
sentir em Portugal, nomeadamente pela criação de sociedades científicas, pela
publicação de periódicos especializados e por intermédio da realização de
congressos científicos nacionais e internacionais. Independentemente dessa
realidade, os poderes públicos da época reconhecem o atraso de Portugal em
matéria de investigação e ensino. Reformando o ensino superior, a 1.ª República
visa a nossa aproximação à Europa cientificamente mais avançada, contudo
revela-se incapaz de criar um organismo estatal à imagem da Junta para
Ampliación de Estudios y Investigaciones Científicas, fundada em Espanha em
1907. Foi a Ditadura Militar, em 1929, que visando a renovação científica e pedagógica nacional criou a Junta de
Educação Nacional. Seguindo de perto a prática da sua congénere espanhola, a
JEN institui um sistema de bolsas de estudo no país e no estrangeiro destinado
a investigadores de ambos os sexos, apoia financeiramente instituições de
pesquisa científica e institui serviços de expansão cultural e intercâmbio
intelectual, visando a nossa europeização
científica em articulação com a expansão da cultura nacional. Um tão vasto
programa de intenções pressuporia dotações orçamentais bem mais elevadas que
aquelas disponibilizadas pelo Estado. Contudo, o esforço na prossecução dos
seus objectivos manteve-se, procurando a JEN perpassar nacional e
internacionalmente a ideia de que este país de longa História e ricas
tradições, agora preservadas e
divulgadas, não havia olvidado a senda do progresso.
O Eng. Adolfo
Loureiro e o Atlas Portuário
Ana Filipa Prata - Instituto de História Contemporânea – Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
Adolfo Ferreira de
Loureiro nasceu, em Coimbra, a 12 de Dezembro de 1836. Morreu, em Lisboa, aos
74 anos de idade. Foi como engenheiro, ao serviço do Ministério das Obras
Públicas que se notabilizou, dedicando cerca de quatro décadas da sua vida ao
estudo e desenvolvimento do sector portuário nacional. Directa ou
indirectamente, em lugares de chefia, como fiscal ou em missão especial, Adolfo
Loureiro esteve ligado a praticamente todos os projectos, obras e melhoramentos
realizados nos portos do País, entre 1860 e 1911.
A 5 de Julho de 1901,
Manuel Francisco de Vargas, ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria,
decide encarregar o ‘engenheiro dos portos’, do estudo da situação portuária
nacional. Apesar dos melhoramentos e construções levados a cabo ao longo dos
anos e das elevadas somas gastas, faltava ainda uma visão de conjunto. Urgia
conhecer-se, de modo tão completo quanto possível, as condições, debilidades e
potencialidades de todos os portos marítimos e fluviais nacionais, por forma a
estabelecerem-se, com acerto, as linhas de rumo para o seu conveniente
desenvolvimento.
A obra Os Portos Marítimos de Portugal e Ilhas
Adjecentes, composta por 8 volumes de texto analítico-descritivo e 5
volumes de atlas, plantas e projectos, é,
pois, o resultado do longo trabalho de investigação e pesquisa levado a cabo
pelo engenheiro Adolfo Loureiro.
Trata-se,
efectivamente, do mais rigoroso e insistente relato das condições,
potencialidades, falhas e faltas do sector portuário português. Para certos
momentos do nosso passado portuário, este Atlas
Portuário é, de resto, a única fonte de conhecimento de que dispomos.
Agustín Pascual (1818-1883) e Bernardino Barros Gomes (1839-1910). O primeiro ensino
florestal em Espanha e Portugal
Ignacio Garcia
Pereda
- UPM Madrid/ Instituto de História Contemporânea – Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
Tharandt Forestry Special School (TFSS),
created by Heinrich Cotta (1763-1844), emerged in the first years of the XIX
century with an impressive, worldwide reputation in forestry engineering. After
defining its own engineering education TFSS responded to the challenge its own
sense of mission in engineering research, teaching, and practice by assisting
in establishing new technical institutions of higher education around the world.
This paper focuses on TFSS’s participation in the creation of such study
centers in Spain and Portugal. This case study explore the Villaviciosa de Odón
forestry school (1848-1869), and the first Silvicultura chair in Lisboa
(Instituto Gerald a Agricultura, 1864-1910). The aim of establishing an
international system of expertise with TFSS at its apex reveals both the
strengths and the limitations of the “export” effort.
This essay will try to study some of the
caracteristichs of export of the Tharandt forestry school to peripheric
countries like Spain and Portugal. Secondly, once the academic training of
experts or professionals has become established, it starts an internal
evolutions. In the Spanish case, and with the moving of the school to El Escorial
in 1869, this change finished with most of the points of the original German
“shop culture”, when Spanish foresters began to question the ability of the
founders of the profession in the country. Yielded a problem of "school
vs. shop" with respect to the education of young engineers.
Ruy Cinatti e a abertura de Timor à
pesquisa internacional
Cláudia Castelo – Instituto de Investigação Científica Tropical
O Estado Novo encarava o império como um
espaço destinado preferencialmente a cientistas nacionais. Os estrangeiros que
pretendessem realizar trabalho de campo nas colónias portuguesas, dependiam do
parecer favorável da Junta de Investigações do Ultramar, órgão de cúpula da
política científica colonial, e da sua orientação ou coordenação. O material colhido
nas colónias só podia ir para o estrangeiro mediante a entrega de duplicados
para estudo e exibição em Portugal.
Ruy Cinatti (1915-1986), reputado poeta,
mas também agrónomo, coletor e etnólogo, viveu e trabalhou em Timor português.
Como investigador da Junta de Investigações do Ultramar, contribuiu para a
abertura da parte portuguesa da ilha à comunidade científica
internacional. Nesta comunicação
proponho-me analisar o perfil, motivações e percurso de Cinatti; e o papel –
decisivo mas pouco conhecido – que desempenhou na troca e circulação de saber
sobre Timor e, concretamente, como instigador e facilitador de pesquisas de
estrangeiros naquele território, nas áreas da botânica, da antropologia e da
arqueologia.
Emília Gomes -
Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora
Movimento de «scholars» portugueses na
Europa: geografias científicas do século XX
António Mota Aguiar -
Instituto de História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
Universidade de Lisboa
Apontamentos para a História da contenda
entre António Sérgio e Abel Salazar sobre a “Falência da Metafísica”
Costa-Sacadura (1872-1966) e a sua obra científica: os
seus contributos para a higiene e construção escolar em Portugal na transição
do século XIX para o séc. XX
Sofia Fernandes - Centro de
Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design – Faculdade de Arquitectura,
Universidade Técnica de Lisboa
Sebastião Cabral da
Costa-Sacadura (1872-1966) constituiu-se como um dos mais ilustres médicos portugueses,
formado no final do século XIX, obteve o seu diploma em 1898 com distinção pela
Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Nasceu em Abrunhosa-a-Velha e morou e
trabalhou praticamente toda a sua vida em Lisboa. Entre outros elevados cargos
exerceu, com reconhecido profissionalismo e esmero por parte dos seus colegas,
46 anos (1896-1942) de serviço prestados aos Hospitais Civis de Lisboa.
Dedicado desde cedo à obstetrícia, a sua carreira foi de uma ascensão contínua,
a sua vida pública é associada aos Hospitais, Maternidades, Escolas e
Sociedades de Ciências Médicas onde exerceu funções de clínico, director,
investigador e professor. Deu aulas em várias Escolas, nomeadamente na Escola
Normal Primária onde ministrou as cadeiras de Higiene Geral, Higiene Escolar e
Pedologia. Foi autor de cerca de 200 obras bibliográficas e realizou inúmeras
conferências em congressos nacionais e internacionais. Tinha grande gosto pelo
estudo da História das Ciências Médicas e tinha como preocupações científicos
temas relacionados com a Obstetrícia, a Puericultura, a Hidrologia e assuntos
ligados à problemática da Higiene Escolar. Neste último campo destaca-se como
figura basilar na implementação de uma acção médica em espaço escolar.
Manteve-se 21 anos à frente dos Serviços de Sanidade Escolar durante os quais
elaborou estudos sobre as Doenças em espaço escolar, Edifícios escolares,
Mobiliário e material escolar e Exercício físicos e higiene escolar. A sua
experiência e saber serão determinantes nos trabalhos levados a cabo no âmbito
da primeira Comissão encarregue de fixar as normas técnicas higiénicas e
pedagógicas a que devem obedecer os novos edifícios escolares, publicada em
portaria a 13 de Julho de 1912, e composta por Costa Sacadura, pelo arquitecto
Adães Bermudes (1863-1942), antigo director das construções escolares e o pelo
professor Arlindo Varela, vogal do Conselho Superior de Instrução Pública.
Palavras-chave: Costa-Sacadura, Higiene Escolar, Construção Escolar
Bettencourt
Ferreira (1866-1948) e a divulgação científica em Portugal
Marisa Costa – Universidade de Lisboa
Júlio Guilherme Bettencourt
Ferreira é um nome conhecido de poucos em Portugal. Da sua biografia não se
sabe muito mais do que as datas de nascimento e morte, bem como os locais da
sua formação académica e das suas actividades profissionais. Formado na Escola
Médico-Cirúrgica de Lisboa, exerceu medicina e foi docente nas faculdades de
ciências das Universidades de Lisboa e do Porto. Desempenhou, ainda, funções de
naturalista do Museu Bocage, em período que mais recentemente foi possível
situar entre, pelo menos, 1898 e 1924.
Felizmente, possuímos mais
elementos referentes à sua obra, embora se revelem bastante incompletos quando
desejamos ter uma ideia global da sua actividade científica. Esses elementos
permitem, porém, perceber que Bettencourt Ferreira desenvolveu uma prolífica
produçãlo académica, não se tendo limitado, nem à participação em congressos,
nem à publicação de trabalhos na área da sua especialidade. Colaborou em
missões, fundou associações e, na qualidade de sócio correspondente da Academia
das Ciências de Lisboa desde 1899, marcou presença activa nas sessões da
Primeira Classe.
É igualmente do domínio público
que o médico, docente e naturalista desenvolveu uma actividade regular na imprensa
periódica portuguesa. Só no Diário de Notícias, Bettencourt Ferreira deixou
registadas dezenas de ‘crónicas científicas’ ao longo de praticamente todo o
primeiro quartel do século XX. Com uma periodicidade quinzenal, a secção da sua
responsabilidade contemplou uma enorme variedade de temas e de disciplinas.
Graças a ele, muitas novidades do mundo da ciência chegaram ao conhecimento dos
Portugueses através dessas crónicas. Actuando como um verdadeiro agente
cultural, este homem desempenhou certamente um considerável papel na circulação
do público entendimento da ciência em Portugal.
A
mulher como novo actor na ciência tropical do Portugal de novecentos
Ana
Cristina Martins - Instituto de
Investigação Científica Tropical
Sendo
um tema ainda relativamente recente na produção historiográfica portuguesa, o
estudo do contributo das mulheres para o progresso da ciência no país tem
recuperado e desvendado nomes importantes para a compreensão geral da
sociedade, cultura e mentalidades ocidentais ao longo das últimas duas
centúrias.
De
entre os inúmeros contornos a merecerem uma análise mais aturada, realçamos o
modo como algumas mulheres abraçaram a ciência nos trópicos, concorrendo assim
para o desenvolvimento e afirmação da ciência colonial portuguesa. Representando
uma das áreas menos examinadas no âmbito da História e da Filosofia da Ciência
e da Técnica, insta recuperar os seus nomes; observar o trabalho produzido;
perscrutar a sua participação em reuniões científicas; apreciar as suas
publicações; restabelecer o seu percurso académico e redes de contatos
científicos. De posse destes elementos, apreender-se-á o alcance e a dimensão
das suas prestações para a consolidação de diferentes saberes, sobretudo da
ciência nos Trópicos. Somente desta forma arrancaremos do olvido ou do
anonimato mulheres que, por um conjunto de situações, foram subalternizadas ou
votadas ao esquecimento, não obstante a consistência do serviço prestado.
Lançando
um primeiro olhar sobre a generalidade deste tema, enquanto novo espaço e actor
da ciência no Portugal novecentista, examinaremos a produção científica
colonial de mulheres botânicas nos primeiros anos da Junta das Missões
Geográficas e de Investigações Coloniais (= arquivo de ciência), mormente no
que respeita às missões dos anos 40.
António Oliveira Pinto S.J. e as primeiras experiências
com Radioactividade em Portugal
Francisco Romeiras - Centro
Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia- CIUHCT-UL
A Companhia de Jesus
fundou e manteve em funcionamento duas importantes instituições de ensino
secundário em Portugal: os Colégios de Campolide em Lisboa e de São Fiel em
Louriçal do Campo, no distrito de Castelo-Branco, de 1858 a 1910. Estes
Colégios foram pioneiros no ensino e na investigação de áreas científicas tão
díspares como a Física, a Astronomia, a Botânica e a Zoologia em Portugal, pelo
que o estudo das suas actividades científicas representa uma ferramenta
essencial para compreender a História da Ciência em Portugal neste período.
Nesta comunicação pretendemos dar a conhecer as contribuições de António
Oliveira Pinto S.J. (1868-1933) para a História da Física em Portugal no início
do século XX. O Jesuíta revelou-se um promotor dos estudos experimentais e, ele
próprio, um experimentalista de cariz internacional. Terá sido dos primeiros
cientistas portugueses a fazer experiências com TSF, no Colégio de Campolide, e
o primeiro a apresentar uma comunicação, contendo resultados originais, no
segundo Congresso de Radiologia e Ionização em Bruxelas, no ano de 1910, depois
de uma viagem científica onde passou pelo laboratório de Marie Curie e aprendeu
as técnicas radiológicas mais recentes.
Combatendo epidemias: Bernardino António Gomes, Sousa Martins, Ricardo
Jorge, Câmara Pestana, Almeida Garrett, Fernando da Silva Correia
Maria Antónia Pires de Almeida - Centro Interuniversitário de História
das Ciências e da Tecnologia, Faculdade
de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa
Com as biografias dos principais médicos responsáveis pela transição
sanitária em Portugal descrevem-se os percursos dos agentes que colocaram em
prática as medidas mais importantes de controlo das doenças endémicas e
epidémicas que assolaram o mundo ocidental e mais particularmente a cidade do
Porto entre os meados do século XIX e início do XX. A sua formação e atuação
profissional, académica e científica revelam-nos o valor destes protagonistas
da ciência em Portugal, que demonstraram o seu valor em períodos de graves
crises epidémicas. A emergência das situações sanitárias com que foram
confrontados e a responsabilização, por parte das autoridades, de todo o
processo de controlo e eliminação da doença são a prova da confiança que foi
depositada nas suas capacidades. Foi nos períodos mais críticos que os
cientistas portugueses foram confrontados com o estado da arte dos
conhecimentos internacionais e provaram que a ciência médica em Portugal estava
ao nível do das maiores potências da sua época, com os seus protagonistas a
dialogarem em pé de igualdade com os interlocutores estrangeiros, tanto os que
se deslocaram a Portugal para estudar as epidemias e publicaram obras
científicas elogiosas dos profissionais portugueses e das medidas tomadas, como
os maiores especialistas mundiais, representantes dos seus países nas
conferências sanitárias internacionais realizadas ao longo do século XIX para
discutir as medidas para combate às mesmas.
Tal como afirmou
Rosenberg (1987), os períodos de epidemia declarada constituem oportunidades
únicas para a observação das sociedades e dos momentos históricos. E o retrato
que se faz da cidade do Porto nesses momentos é, nas palavras dramáticas de
Ricardo Jorge, o de uma “cidade cemiterial”, onde as “ilhas” eram factor de
proliferação de doenças, com especial destaque para a tuberculose (1899) e as
epidemias tinham especial predileção pelas “classes ínfimas, mal alojadas, mal
tratadas e mal mantidas” (1918).
PAINEL 5 - PATRIMÓNIO MUSEOLÓGICO E ARQUIVOS DE CIÊNCIA
Madalena Ribeiro - Fundação para a
Ciência e Tecnologia e Instituto de História Contemporânea – Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
Paula Meireles (Fundação para a
Ciência e Tecnologia e Instituto de História Contemporânea – Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Lisboa
Os Arquivos de Ciência
A história da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, IP
(FCT), e das instituições antecessoras, tende a confundir-se com o percurso da
própria história da ciência e tecnologia e da organização da ciência em
Portugal. A par desse passado histórico, a FCT é herdeira e detentora de um
significativo património, com larga predominância de acervo documental, que
inclui, para além do seu próprio arquivo, o espólio da JNICT e de outros
organismos públicos e privados.
A FCT tem desenvolvido várias iniciativas no sentido de
garantir a preservação, organização e divulgação do seu arquivo histórico,
valorizando o seu carácter verdadeiramente singular e único no que respeita ao
conhecimento da história da organização e administração da ciência, das
políticas científicas e, afinal, da própria história das ciências em Portugal,
perspectivando-se mesmo um espaço de cultura e memória que pode integrar outros
contributos, nomeadamente acervos pessoais, que encontrariam nessa integração
um lugar adequado que garantiria a sua salvaguarda e que de alguma forma
completaria e alargaria esse património nacional que o Arquivo de Ciência e
Tecnologia da FCT pretende ser.
O Desenvolvimento científico e o coleccionismo privado: o Museu Nacional
de Arqueologia e António Paes da Silva Marques (1912-1940).
Elisabete Pereira - Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência,
Universidade de Évora
Maria de Fátima Nunes - Centro de Estudos de História e
Filosofia da Ciência/Departamento de História, Universidade de Évora
Maria Margaret Lopes - Museu de Astronomia e Ciências Afins
- Rio de Janeiro, Brasil
Palavras-chave: colecionismo, circulação do conhecimento, disseminação
científica colecionismo, Museu Nacional de Arqueologia
Abstract: A implementação e consolidação de instituições e a
preservação do património histórico/arqueológico decorre, em grande parte, do
estabelecimento de redes popularização e comunicação científica. António Paes
da Silva Marques (1876-1950), colecionador/informador do concelho de Avis
(Alentejo), foi uma das personalidades que integrou e beneficiou dessas redes,
conjugando a sua acção a nível local com redes globais de disseminação do
conhecimento. Antigo aluno da Escola Politécnica de Lisboa, administrador do
concelho de Avis e deputado pelo círculo de Elvas durante a primeira república,
integrou um sistema de trocas de informação, documentação e objectos
fundamental para o crescimento das colecções do Museu Nacional de Arqueologia e
para o progresso do conhecimento científico. Focalizando a conjuntura das suas
experiências intelectuais, nomeadamente a conjugação dos contextos do
coleccionismo privado com o mundo académico e museológico, identificaremos as práticas
culturais e científicas deste coleccionador, analisando redes e circuitos de
comunicação da ciência, de forma a concluir sobre a trajectória percorrida
desde a «curiosidade do colecionismo» à difusão da cultura científica.
Particular atenção será dada à trajectória de algumas peças colectadas por
António Paes que chegaram a ser apresentadas no Congresso Internacional de
Arqueologia de 1912.
O Instituto
Industrial do Porto e a divulgação da Ciência na segunda metade do
séc. XIX
Patrícia Costa - Museu do ISEP, Instituto Superior de Engenharia do Porto, Politécnico do
Porto,
Helder I. Chaminé - Instituto Superior de Engenharia do Porto, Labcarga|ISEP e DEG;
Centro GeoBioTec
Pedro M. Callapez - Centro de Geofísica; Departamento de Ciências da
Terra | Universidade de Coimbra
Palavras chave: ensino industrial, conhecimento científico, colecções
didácticas, Regeneração, Portugal.
Resumo: Com a criação, em 1852, da Escola Industrial do Porto,
iniciou-se uma importante etapa na divulgação da ciência junto das novas
classes de trabalhadores, graças ao esforço de industrialização nacional.
O ensino industrial destacava-se por uma forte componente prática,
comprovada pela criação multidisciplinar de laboratórios e gabinetes
científicos, que possibilitavam aos alunos o acesso a actividades experimentais
em áreas ligadas aos novos processos tecnológicos. Anualmente eram adquiridos
no estrangeiro instrumentos, aparelhos, modelos, espécimes, minerais e rochas,
com o fim de equipar estes espaços com o que de melhor se produzia e se
empregava nas principais escolas dos países líderes da Revolução Industrial.
O acervo de Mineralogia, Petrologia e Paleontologia hoje existente no
Museu do ISEP, é proveniente de fornecedores especializados de França (Les Fils
d´Émile Deyrolle e J. Digeon) e da Alemanha (Theodor Gersdorf e Friedrich
Krantz) e ilustram o contexto económico, onde a indústria extractiva
desempenhava um papel fulcral na obtenção de carvão e de outras matérias-primas
estratégicas. Deste modo, é natural que a Geologia e Arte de Minas tenham
desempenhado um papel significativo na formação académica do ensino industrial
principalmente a partir da reforma de 1864.
Competia aos docentes responsáveis pelas respectivas cadeiras a selecção
das aquisições. Estes consideravam que as matérias deveriam ser leccionadas na
presença de modelos de minas e de espécimes que reproduzissem os principais
depósitos existentes. Esta atitude denota um conhecimento muito rigoroso dos
métodos de ensino e do material didáctico que se produzia na Europa, proporcionando aos alunos uma constante actualização de conhecimentos, assim como um contacto mais directo com as técnicas actuais.
Em conclusão verificamos que a aquisição destas colecções integrou um
esforço acentuado de modernização do ensino em Portugal, adequando-o de modo a
contribuir significativamente para o progresso económico do país, através da
indústria, comércio e agricultura alicerçados numa mão-de-obra especializada.
O papel da secção zoológica do Museu Nacional de Lisboa na formação de
uma comunidade de naturalistas em Portugal (1858-1907)
Daniel Marques - Centro Interuniversitário de História das Ciências e da
Tecnologia, Pólo Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e
Tecnologia
A
presente comunicação discute o papel do Museu de História Natural anexo à
Escola Politécnica de Lisboa na formação de uma comunidade de zoólogos em
Portugal, ao longo da segunda metade do século XIX. Apesar de a Real Academia
de Ciências de Lisboa albergar colecções zoológicas desde o século XVIII, a
inexistência de uma direcção científica qualificada conduziu à sua progressiva
degradação. No sentido de superar esta situação, e de modo a auxiliar o ensino
da zoologia na Escola Politécnica de Lisboa, foi acordada a transferência das
colecções zoológicas para este último estabelecimento em 1858, onde ficaram sob
a direcção de José Vicente Barbosa du Bocage (1823-1907). Através dos seus
esforços, Bocage conseguiu reorganizar o Museu por completo, aumentar
significativamente as suas colecções e dotá-lo de pessoal qualificado. As suas
reivindicações junto do governo resultaram na criação de lugares para que
outros naturalistas se pudessem dedicar ao estudo dos numerosos espécimes que
afluíam ao Museu, facto que foi fundamental para estimular investigações
zoológicas em Portugal. Apesar destas investigações recaírem quase
exclusivamente sobre a classificação de espécimes, a necessidade de organizar
colecções para exposição no Museu possibilitou o estabelecimento de uma
comunidade de naturalistas profissionais que, embora se restringisse a poucos
elementos, teve uma produção científica meritória e continuada. Os contributos
científicos de diversos naturalistas desta comunidade, como Bocage ou Félix de
Brito Capelo, serão analisados através da principal publicação que servia à sua
divulgação, o Jornal de Sciencias
Mathematicas, Physicas e Naturaes, bem como de outras obras da autoria
destes naturalistas.